OLD ROCK

OLD ROCK

2/13/2012

Carnavale

Como sonhava Clarice:
Nesse carnaval vou ser outro que não eu mesmo
Deixar a fantasia de lado, essa que usamos durante o ano todo.
Deixar as máscaras caírem.
Pensar na alegria do dia a dia.
Com sacos de farinha vou me vestir a imitar Pierrô, como todos os palhaços do mundo.
Com minha malandragem brasileira, herdada de Arlequim, exposta até em nossa bandeira,
Vou ganhar todos os abraços e beijos que puder das Colombinas desajeitadas dos blocos de rua
Minha Commedia dell’Arte sob chuva equatorial
Pena mesmo é tudo acabar em cinzas...

3/02/2011

OPERÁRIO DE POEMAS, ARTESÃO DE CONTOS

No bolso, as horas contadas em pétalas de rosa
Chave-mestra para todos os segredos
Um sim para cada sim
E algumas letras vindas de Portugal, azulejadas.
Dando corpo táctil à cidade dos livros.
Longa deve ser a vida
Mesmo que só durem os minutos do teclar da antiga máquina de escrever
Os rios que um dia passaram por minha vida
Revelaram o que mais esconde a pedra:
- Metamorfose é revide contra a vertigem do arrastar dos dias
Alegria ao dançar. Libertino. Liberto. Livreto...
Cantar todas as letras
Ecoar...
Até que o nascer do sol erga um dia feliz como queria Cazuza
Letra só ou Companhia das Letras
Alegria alegria como queria Caetano
Então após reunir todos os meus poemas, lembrei do meu primeiro caderno preto
Aluno de poesia. Espinha dorsal. As asas pueris...
Aqueles versos engaiolados em folhas amareladas
Palpitavam em minha caixa de vidro
Queriam saltar das janelas do último andar
Então saltei...
Meninas da balada das meninas de bicicleta de Vinicius
Estou a teus pés em prosa e verso
Operário de poemas
Artesão de contos

QUEM VIVE DO PASSADO?

Quem vive do passado?
Que pessoa pára os ponteiros do relógio e volta atrás?
Quem não deixa essa erosão, o tempo, levar com o vento os dias idos?
O que ganha um contraventor das leis mais básicas da física voltando pro passado?
Por que deixar a vida se arrastar em descompasso com os calendários?
Por que remar contra a maré?
Não há tempo que não passe, ele não volta atrás.
O tempo, grãos de areia, quanto mais força fazemos para segurá-lo...
Mais ele escorre por entre os dedos
E mesmo sem se sentir
O tempo passa...Por nós...
¬Às vezes, anestesiando dores, cicatrizando feridas;
Abrindo novas veredas velhas sob nossos pés
Caminhar...
O tempo é amigo intimo do caminhar
Passos em direção ao amanhã
Ir em frente
Na mesma direção do sol poente
Até acharmos o sol nascendo

Devo seguir a diante
Sem a pressa da juventude ida em mim
Juventude da carne e dos ossos
Não a juventude da alma e dos olhos
Essa irá comigo até o fim

E não posso apagar os passos atrás de mim
A vida não é como a areia da praia
Os passos que damos não se apagam com as ondas
Mas também, não são eles, como estrelas, que nos guiam pelo caminho.
São tão somente passos idos
Que sempre vão estar atrás de nós
Até o dia em que cerrarmos os olhos para os dias vindouros
E nem mesmo a morte
Com seu poder descomunal
É capaz de parar tempo
O tempo passa pela morte como um beija-flor passa por uma flor: invisível...

ESPANTALHO

CLOSE YOUR MIND
THE BLIND SHADOW IS COMMING
Campo de milho. Cinturão. Centurião.
Sobras espalhadas nas sombras
Alan Poe entre corvos caça o medo que guardamos entre os dentes
Cada passo no milharal. Cinturão. Centurião...
Seu corpo de palha
O fogo de seus olhos
Tua mente, temente.
Mentira contada ao redor da fogueira
Crianças apavoradas
OPEN YOUR MIND
THE SCARECROW IS COMMING...SOON...
Os olhos buscarão seu maior temor
Não a morte. O que vem depois é apavorante
Depois dos vermes, o desconhecido, o fim do túnel.
Como fugir? Como se esconder? Como não temer?
Onde está Daniel? Davi?
Onde estará Batman que não vem nos salvar?
Morcego. Vôo cego...
Por isso ele não teme
Ele não vê
E por mais que eu ande no vale da morte
Eu não temerei, pois estarás sempre comigo.
Minha companheira solidão
Minha cegueira nas sombras.

3/01/2011

22 DE SETEMBRO

Meu anjo nasceu, desceu dos céus.
Agora vou deixar de contar a felicidade em calendários,
E horóscopos de paginas de jornais.
Agora o amanhã que eu tanto esperava é hoje
Antes eu pensava amanhã ser feliz
Amanhã tomar café
Amanhã acordar tarde
Amanhã esperar chover
Eu pensava amanhã
Agora é hoje
Meu anjo nasceu
Desceu dos céus pra me fazer rico sem conta corrente
Alegre sem sorriso
Maratonista sem cansaço
Ouro sem ouro
Feliz cidade
Felicidade.
É hoje...

SONHAR, SÓ DORMINDO

Sete vezes lembrei minha infância
Do tempo em que o céu se uniu ao inferno
Do tempo que o Brasil era menino que nem eu
Construções e toadas de muitas cidades:
Belém, onde nasci;
Cametá, minhas saudades dormem nos bancos de areia da praia artificial;
Salinópoils, o sal embebedou meus olhos;
Mosqueiro, o mar é doce;
Paragominas, a poeira vermelha voava no céu azul;
Tucuruí, nem a força de Hércules prende o rio;
Oriximiná, água preta no copo d’água é clarinha;
Óbidos, pedaço da cidade velha;
Santarém, onde o tapajós não se mistura ao amazonas, onde a beleza não se mistura com nada, fica suspensa no ar;
Soure, não há céu mais belo que o Marajó;
Macapá, São José te protege;
Itaberaí, o silêncio é juiz dessa cidade;
Brasília, linhas cortam o azul inigualável;
Goiânia, onde não se pode sonhar;
Belém, onde morri.
As ruas ficaram diferentes
As praças viúvas
Acho que estou muito sentimental
Vou procurar no meu caminho alguma igreja
Foi assim que nasceu este poema
Como se não quisesse nascer de meu punho cerrado
Como se fosse uma notícia de jornal
Estou indo para o meu lar
Doce lar
Onde meu coração se tornará infinitos
Uma festa lá na praça quando eu chegar
Sobrevivi...
Meu sonho, anedota...
Que ninguém vê graça alguma
O amor através das idades vai à romaria
Juventude me deixou
Infância canta o hino nacional na Avenida Presidente Vargas
Quero casar
Puro como café
Café preto
E na minha boca este soneto
É o sol...

8/18/2009

DE OLHOS BEM FECHADOS

...Ainda te vejo suave e leve
Feito a brandura deste céu de lã
A encobrir esta cidade fria.
Alva como essas nuvens
Vens caminhando por entre veredas onde jamais te vi
Como se fosse o fundo de um quadro de fundo azul
Visão imóvel entrando pela sala da memória.
E parece tolice que nesse momento
Longe de casa
Sinto-me assim
Pássaro sem asa
Verso sem métrica
Buscando pontuação correta
Porém, sem achar exclamações ou vírgulas.
De repente tua voz ao longe...
Me fazendo guardar um calor equatorial
Nessas noites frias do serrado.
E vou fingindo esconder o medo
O medo onde um dia morava
Cada paixão que mesmo no frio enfim ardia.
Contido, horas depois.
Só penso em por abaixo esse muro... respeito
Essa grade... receio
Essa cerca a nos s...e...p...a...r...a...r
Quilômetros...
Metros...
Centímetros...
O que é a distância? Quem sabe medi-la?
A régua? O escalímetro? O mapa-múndi?
Não
O coração não tem escalas
Para ele não há léguas, milhas, nem o ano-luz...
L o n g e é perto.
No entanto mantenho distância imaginária
Nada é posto abaixo
Talvez para que eu possa te dizer versos empoeirados
Desta gaveta guardada no meu peito
No mais completo anonimato.
Por fim os versos me revelam
Mais em carta do que em soneto
Retraído é certo
Mas sem desejar saber, em momento algum, quem és agora.
Pra que saber?
Quem sabe quem és?
Grão de areia?
Gota do mar?
Estrela do céu?
Estrela do mar.
Não pude perdoar meu temor
Ele tem fundações rasas
Como horas em cinzas jogadas num cinzeiro
E acontece que em tua presença as palavras ficam suspensas
Num retrato de parede
Em branco e preto
Da sala vazia
Dias furtados...
É que ninguém havia me dito que naqueles livros de receita
Estava escrito que tais melodias sentimentais
A ondularem em teus cabelos de sol
Tornam um coração num bandido coração.
Sentir tua falta (saudades?).
Sentir saudades (tua falta?).
O que fazer sob a lua bela e branca desta noite muda
A não ser te ver suave e leve
Alva como as nuvens quase inexistentes
Mesmo estando eu, agora, de olhos bem fechados...

4/18/2008

conspiração

...E minha mão conspirou contra mim
E então se pôs a escrever pra ti.
Não queria mais saber do teu nome, nem do teu rosto.
O que eu queria mesmo era que ficasses naquela alcatraz chamada saudade...
Se pudessem ser os erros da vida
Iguais aos erros que borracha apaga.
Mas então não haveria graça nenhuma
Não poderia agora olhar pra trás e não me arrepender ou me arrepender mesmo
O que me importa?
O tempo, já me disseram, cura todas as chagas:
Estou curado!
Aquela ferida que você abriu em mim, não dói mais...
Não tenho mais poemas guardados pra ti em meu peito
Digo isso ao ar com o capital pecado do orgulho.
Aí vem esse maldito poema me falando:
- Chega de dissimular!
Tira teu disfarce!
Mostra o teu esconderijo.
Não insista, como você pode explicar:
Teus sonhos se arrastando aos pés dela na cama?
Tua insônia não pedindo nada em troca por tuas noites em claro?
Teu coração calado?
E quando te permites dormir
Fingindo estancar o tempo singrando ininterrupto
Que nome vem sempre aos teus lábios secos de beijarem em devaneio?
Que nome é esse pairando sobre teus pesadelos?
De quem é esse rosto fantasma arrastando correntes pela tua casa?
O que te importa?
- Tempo não é remédio
Esquece!
Esquece que te lembrei dela
E me libertas
Eu quero gritar, falar do mar,
De amar,
Do sol, da lua...
Das amizades, dos homens e mulheres...
Falar das crianças
Falar de ti
Do sol, do girassol.
Do céu, do carrossel.
Deixa a tua poesia voar novamente...

6/18/2007

O SILÊNCIO DOS DIAS QUE VIRÃO...

Estive pensando em você
Pensando nestes dias sem chuva
Águas mentirosas a regarem algum jardim da cidade
Chuva sem nuvens
Nuvens brancas, brancas como tua pele...
Como a folha onde deito este poema.

Sobre a folha em branco, solto estas palavras.
Como se gravasse versos por todo teu corpo alvo
Como se colocasse estrelas cadentes no céu da tua boca
São relâmpagos deitados em minha noite só.
A pálida pele da folha em branco me pede:
- Quero luz!
- Noite escura!
- Quero lua!
O que me importa em meu exílio?
Obedeço.
Mesmo não tendo a chuva morna pra me contar histórias nas telhas.

Nossa lua está minguante
Nossas bocas juntas perderam o rumo
Sem norte
Sem bússola
Nau à deriva
Que mar podemos navegar?

Sobre tua pele branca escrevo meus versos
Em vez de abrir uma janela.
A Minas que nunca vi
Solta seus montes à minha frente
Quero seu ouro
Sua liberdade.
Desejo a cada hora
Cada constelação entrelaçada em teus cabelos
Quero o mar
Sentir suas ondas abraçarem as pernas
Engolir o corpo como uma ostra
Silêncio...
Talvez, desavisado, tentasse pôr sobre tua pele
Odes sobre paixões engaioladas no peito.
Não me deu asas
Não há dilúvio sobre meu deserto de Atacama
Minha sede perdura
Porém, há odres no caminho:
São teus beijos com umidade abaixo de 20%.
Não ligue pras minhas palavras
Elas são meu kit de primeiros socorros
Estão soltas num balão de oxigênio
E eu respiro cada letra
Quando me afogo nesse mar inventado dos teus olhos
Mar sem ondas revoltas
Calmaria que tanto busco
Você, meu cais.

Os versos não têm dimensão
Estão sem escalímetros
Sem sextante
Não dá pra medir a distância
Um palmo?
Milhas?
Não sei, sigo as estrelas.
Parece que foi ontem nosso primeiro beijo
O que vem depois do primeiro beijo?
Aguardo...

Talvez sombras do passado
Pudessem compor árias frenéticas aos teus olhos furta-cor
Talvez pudessem, sob tua janela, cantar serenatas.
Dos dias idos e assim te fazer lembrar
Como é bom ver o passar dos dias
Mas eu, em minha casca, prefiro, ao passares por mim,
Te oferecer o silêncio dos dias que virão.

11/10/2006

em branco

Nuvem solidão nuvem
Abraço mudo entre os olhos e as mãos
Palavra cega tateando em Braile
A folha em branco
Graus negativos na ponta dos dedos

Os versos sobre o fundo branco da folha em branco
Sussurram...
Conspiram golpes contra o silêncio
Como um jovem estudante enfrentando tanques de guerra
Na praça da paz celestial chinesa
Como a mãe segurando o retrato do filho morto
Nas chacinas cariocas e paulistas
Como o tratorista incapaz de demolir a casa dos favelados
Em frente ao poder judicial e policial
Os versos são como revolucionários
A estagnação lhes perturba
A opressão das pautas caladas
Ferem sua ética
Seu espírito irrequieto
O silêncio é gaiola para sua mente-ave
Abre tuas asas verso irrequieto
Voa sobre essa nuvem branca solidão
Dessa folha em branco
E não deixes a vida passar em branco por nós.

10/03/2006

ENTRESSONHO

No inicio
Quando só era o caos
Tudo era subterrâneo
Desconhecido
Líquido
E hemorrágico.
No meio de uma infinita solidão
Deus sonhou o céu e a terra
Mas ainda não havia nada
Toda a terra era utopia estéril
E o céu era só nevoa.
Também não havia dias, nem meses, nem anos.
Deus então sonhou com o dia e com a noite
E ao sol deu o dia, o calor, o homem;
E a noite ele deu a lua, as águas e a mulher.
A lua era menina era mulher
Sabia como lidar com os demônios e com os magos
Seu nome também era Ìsis.
Em seu profundo sonambulismo regia as águas
Com olhos escuros e mãos líquidas.
Seus lábios assoviavam volúpias
Os homens e mulheres a partir daí
Ficaram com olhos de éter, respirando euforias etílicas.
O vinho para a lua era como sangue
Era como os mares salgados de nossas veias
Os oceanos coagulados dos mênstruos mensais das mulheres.
A lua só, não era só lua,
Era nova...Nova lua
Era crescente...Cresce lua
Era minguante...Mingua lua, qual um sorriso no céu noturno e estrelado,
Era também cheia...
Cheia de mistérios
Chia de volúpias
Cheia de lua.
Certo dia os homens decidiram adorar esta lua
E vestiram-se todos de sedutores.
Ouvindo os ecos que a lua fazia
Ao passar nua em plena rua.
Os homens saíram de suas cavernas
E se eriçaram de luxuria.
Enlouquecidos e com olhares noctâmbulos
Todos tremeram de palidez
Era como ouvir as vozes que vinham do coração
Era esquecer de bater nas cabeças o martelo da razão.
A lua ardente delira e fica nua, cheia.
Os homens aloucados palpam os seios da lua
Beijam suas nádegas
Cheiram seu ventre
Lambem suas costas
E o gozo desse espasmo desceu a terra
E desde então os homens,
Em noites de lua cheia,
Tornam-se lobos.
A lua é do povo
A regente do mar de rostos na multidão
A lua é câncer
É prima da loucura:
Não diziam que Van Gogh era louco?
Ele pintou o quadro mais valioso do mundo;
Não disseram que Napoleão era louco?
Ele quase conquistou toda a Europa
E não disseram que Jesus era louco?
O filho de Deus
O homem que veio nos ensinar o mandamento mais importante
“Amai-vos uns aos outros como eu vos amei”
Necessitamos da loucura
Da lua
Da loucura lunática
Precisamos de suas crateras
De sua falta de gravidade.
Que tragam tochas
Todo tipo de chama
Que iremos saudar o beijo do sol e da lua
Hoje é dia de eclipse
E quando a lua estiver em seu trono aquático
Que nos proteja em nossas viagens estáticas
De nossas fantasias arbitrarias
E que nos dê inquietude lúcida
Para enfrentarmos os sortilégios
Os imprevistos
Que nos legue a sensualidade
Para que possamos sobrepor
As escravidões mentais
As faltas energéticas
E de todo tipo de malefício
E, por fim, que nos remeta a nós mesmos,
Para que possamos usar a intuição no lugar da razão, de vez em quando,
Para que também a nossa vida deixe de ser um entressonho.

6/19/2006

HERANÇA DE DRUMMOND

Suor sobre minhas faces
Faces poéticas cantando no exílio,
Beco em frente ao mar, mar de rosas ardentes.
Isolda, meu cais, estou partindo para a cidade sem reis.
Levando tristezas grudadas neste quarto minguante
Em milhares de corações devorados no meu peito.
Suor íntimo sobre meus versos
Versos molhados na boca.
Ando sem mapa, sem mina de ouro.
Nada no meu fim de arco-íris
Mas já estou no meio do caminho
Minha alvorada. Sigo por este mar sem meu Pero Vaz de Caminha
Vou registrando...
Beijos com umidade 15%
Solitude árida
E tudo o que é belo
Confesso, adoro Minas sem conhecê-la.
Parece um soneto patético
Sem festa
Sem nome
Só protesto
Herança de Drummond
Ele também me deu um lenço de Cecília Meirelles
Pras lágrimas caídas
Lágrimas como o rio revolto da minha cidade há muito longe
Saudades sem fim
Litogravura na minha memória
Lembro das manhãs de galos ardentes chamando o sol frio
Do café sobre a mesa, quente...
Estou só
Maria de Nazaré, da-me a consternação.
Daniel empresta-me a temeridade da cova dos leões.
Estou só
Só como o poema na lata de lixo
Impiedosa sujeira dos tempos
No entanto, o menino em mim dá a luz ao homem do dia de hoje.
E então os agostos passam
Vem setembro
Vem outubro, novembro, dezembros...
E aí cai a chuva
Contando histórias em cada gota sobre os telhados
Histórias antigas
Histórias novas
Guardadas no fundo desse copo de gyn
Como é bom o passar dos dias...

4/15/2006

Para Renato Torres

meu irmão, meu pai, meu filho
anjo endemoniado a flutuar sobre as crateras da lua
sob a sombra desta lua nua ecoam tuas palavras
palavras que vão de encontro aos burocratas, aos sem gosto e sem graça
aos sérios e injustos,
és contra os chatos, os coitados, os pacatos, os medrosos
tua música bate de frente com os censores, as palavras caladas, o silêncio
os obscuros, os lobos em pele de cordeiros, os pedantes
teu verbo hemorrágico cospe nos cultos, nos egos,
nos lerdos, na burrice,
teus acordes quebram os aquários, esquenta a água parada.
as palavras das páginas brancas ressoam...
tua árvore é só semente.
teu vidro, nada na frente.
meu irmão, meu pai, meu filho...

4/13/2006

uma declaração de amor à arte


Para Adolfo Santos

o amor...
só o amor nos une
a arte...
a arte é nossa impressão digital deixada na alma e no tempo
e não há amor mais estranho que o amor pela arte
amor que não sossega quem ama
que dá risadas quando descontente
que só fica em paz nas tormentas
e que se alimenta apenas dos aplausos da platéia
no amor e na arte
o soldado luta somente para defender o nosso eterno direito de cantar
cantar qualquer canção sem mais nem porquê
no amor e na arte
somos mais importantes que o dinheiro, e este não pode comprar nosso dias e noites
no amor e na arte
toda manhã é uma manhã de sol, mesmo que esteja chovendo
no amor e na arte
não há papas na língua
branco é branco
preto é preto
índio é índio
mulçumano é mulçumano
católico é católico
protestante é protestante
homem é homem mulher é mulher
e mesmo assim tudo é uma coisa só
não há distinção de cor, raça, credo ou sexo, não há distinção
na arte
o amor é livre, deixa viver
não é amor ciumento posto em drama
na arte
professor e aluno, aprendem uma coisa só: aprender uns com os outros
no amor
a arte pinta e borda
canta canções,
dança sem parar,
escreve seus poemas nos muros da cidade,
representa a vida num banco de praça
no amor e na arte
a única lei do mundo é ser feliz
então sejamos felizes! amemos! f
açamos arte, por toda parte!
para que ao fim de tudo possamnos olhar para trás e confessar: eu vivi.

3/24/2006

janela

te escrevo
tu escrava
palavra
pólvora
lava

tu palavra
me escrevo
escravo
sou prova
pólvora e lava

eu escravo
escrevo
palavra
tu escreve
entrave
palavra chave

tu pólvora
me encendeia
encendeias

tu lava...alvejante. eu pulo a janela...
tu lavas...

3/08/2006

Poética

À Manuel Bandeira


A festa do enterro
Nossos sambistas
Mocinhas ... meus fragmentos
O heroísmo que marca os que marcam a morte
É uma flauta de papel
Contarei a história de um poema:
Antologias
Andorinha, minha adolescência é um encontro casual com a rosa
Rosa em cinzas horárias: irônica, erótica
Poemeto carnavalesco de sapos verdes
Bailando nos mares
O ritimo feliz dos sinos dissolutos
É a noite morta num berimbau, feito a libertinagem.
Não sei dançar mulheres
Penso nas famílias como um pneumotórax
Minha poética evoca recifes, notícias de jornal e poemas
Minha oração voa profundamente como andorinha
Na boca palinódia indiscreta vou-me embora
Estrelas da manhã cantam duas canções indígenas
Que falam de três mulheres: a filha do Rei,
A momentânea do café frio,
E a dona do trem de ferro
Não tenho cinqüent’anos
Meu ouro é preto
Minha maçã é forte-água
A estrela em meus olhos é a última canção do beco
Bela, bela, belíssima
Então a brisa do poema solitário
Teima e volta em sextilhas românticas ausentes
O poema santo quer neologismos
Mato o boi no verão
Torno-me grilo noturno do morro do encanto
E a lua nova é estrela tarde das tardes gélidas
Variando ... variando ...
Sérios sonetos formam sua peregrinação
Seu nome são vários nomes
Em si existem dois anúncios:
- Oitenta anos de poesia
Literatura clássica atual
Conteúdos fixos
Criações
Só tenho vinte anos
- Bibliografia ativa
Cronológica
Histórica
Literária
Não sou da Academia Brasileira de Letras
Obrigado!
Obrigado Manuel Bandeira por ter nascido

2/17/2006

MEU CARO LÚCIFER

Caído anjo do céu em desobediência
Quais as regras do jardim edênico?
Serpente tântrica a nos tentar
Eva e a serpente vivem a se repetir
Noturno
Florestal
Ardentes chamas
O inferno lúbrico, apocalíptico das temerosidades eucarísticas
Dorme em nossas ânsias carnais
Prazeres luciferianos
Lual nosferático.
Nossa viagem terrena depende de um ato: viver
Viver é provar a maçã
É ser expulso do jardim
É alquimia latente
É pecar.
Tarô, quiromancia, oráculos, qual o meu futuro?
Que rumo tomar diante da maliforme tentação?
Só um acho eu ... viver ardentemente
Caro anjo.

2/15/2006

HOJE

Hoje, se quiserem cortar minha cabeça
O façam, que hoje a minha cabeça tem asas
Querubim endemoniado;
Hoje, se quiserem tirar o chão sob meus pés
Podem fazê-lo, que hoje eu estou com minhas pueris asas de demônio angelical;

Se quiserem apagar o sol
Se quiserem apagar a lua
Tudo bem, que hoje eu sou a luz;
Se quiserem matar ou morrer
Não se importem, que hoje eu lhes darei a vida;
Se hoje quiserem dançar
Sorrir sem motivo algum
Lembrar de um amor esquecido nos guetos da saudade
Ou esbanjar alegria
Euforia
Estejam livres para fazê-lo
Que hoje eu sou a música;
Se quiserem hoje beijar alguém
Abraçar bem forte
Deixar o coração ser capitão deste corsário que somos nós
Ou apenas sorrir e chorar sem motivo algum
O façam, que hoje eu sou o amor
E deixarei todos beberem de mim
Como se eu fosse a mais servil taça
Como se eu fosse as duas tetas mais gigantes
Que se possa pensar
Dando ...
O que hoje todos querem.

2/14/2006

ARTÉRIA

Não sei o que as pessoas querem de mim
Meu medo
Meus beijos
Meu cuspe
Minhas palavras
Meu silêncio
Meu sorriso
Minhas lágrimas
Minha vida ou minha morte
Talvez elas queiram meu sangue
Passam suas vidas inteiras
Atropelando seus sentimentos
E anestesiando seus desejos tanto
Que já não sabem o que querem,
Protegem-se de tudo e de todos
Tornam-se rivais
Superiores
Favoritos
Rejeitados
Protegidos
Desconfiados
E inseguros.
Prestigiam-se pela astúcia nobre
De enganar e não ser enganado
- Delicada superioridade civilizada.
Por força global e pelo conhecimento instantâneo
Onde todos pensam a mesma coisa ao mesmo tempo
Vão se transformando todos em astros da TV.
Educados, respeitosos e cheios de tato diplomático
Engolem tudo aquilo que os desagrada
E fingem ir tudo bem,
Seus moldes e regras não permitem
A inveja
O rancor
A raiva
O despeito ou a mágoa.
Filantrópicos, acabam matando uns aos outros,
E aquele “um por todos e todos por um”
Fica hibernando, banido pelo ódio e pelo medo.
Quanto mais se conhecem
Mais coisas sabem um do outro.
Menos sabem o que pensar um do outro.
Assim são as pessoas
E assim muitas delas não são
Por elas não saberem o que querem de mim
Dou a elas
O que dou a todos:
Minha arte!

2/03/2006

COMO JÁ DIZIA OSWALD DE ANDRADE

Como já dizia Oswald de Andrade:
“A poesia existe nos fatos”.
Mas houve a erudição
Trancamos a poesia nas enciclopédicas filas do saber.

Academicismo, universidade.
Apesar das revoluções, arte ainda é elitizada.
Arte para professores de literatura
Arte para presidentes
Arte para ginecologistas
Arte para militantes comunistas
Adormecida no ócio de seus gabinetes:
Assépticas galerias
Opulentos teatros
Pitorescos museus
Os melhores ambientes vegetativos
De nossa contemporânea mania de apreciar
Degustar
Sem devorar sentidos. Tintas. Danças. Poesias.
Por educada reminiscência dos genótipos arcaicos.
Esquece-se a arte
Lê-se estética e só.
Geometria dos fatos dignos de serem retratados
Fotografia.
Caricatura. Precisamos de caricatura.
Irônia. Precisamos ser irônicos.
Sutileza. Precisamos ser sutis e agressivos.
Paradoxo. Arte. Nós mesmos. Não os outros.
A experiência. O tato. Não as consciências teóricas.
Nossa história conhecida
Nossa arte euro-brasileira
A arte marginal de todos os tempos
É preciso revê-las
Vacinar os absurdos
Curá-las da mentira, da negação, da cópia.
Arte pela arte. Não somos catálogos parnasianos
Em pleno século XX. Somos, sim, viajantes do tempo.
A arte - reflexo vivo do momento
A arte - a velha negra contando casos de infância
Melhor livro de história que temos.
É preciso que a arte se torne saltimbanco
Mambembe pelo mundo onde vivemos.
Circense. A arte como circo
O circo para todos
Todos que queiram apreciá-lo, devorá-lo
É preciso que a arte fuja dos moldes fixos
Dos teatros
Dos livros
Das galerias
Dos museus
E vá para a rua.
Sem pudor
Sem papas na língua
Arte.
Parte ...

2/02/2006

EPÍLOGO

... E inicia-se o fim:
Porta fechada
Porém aberta às nossas ilusões.

Escorrem entre os dedos pequenos
Pequenas lembranças que não caberiam no mundo inteiro.

Deixe-me contar uma estória sem final
Não sei ao certo, onde ela começa
Mas é mais ou menos assim:

“Um rapaz, desses que o mundo esconde atrás da solidão,
Olhava certo dia para o céu.
Falando a si próprio ele disse:
- Como é infinito o meu céu que não é meu!

Num outro dia
Caminhava ao som do vento
E viu um rosto que guardava
Olhos tão lindos aos seus olhos
Que ele repensou:
- Como é infinito o meu céu que não é meu
Mas, bem mais infinito, é o amor que não é meu
E que tomou conta do coração
Que também não é meu
Mas é de todos
De todos e de todo o meu amor
Que nunca tem fim.”

PRELÚDIO

O som das coisas foge da atmosfera
E qualquer qualquer
Só precisa de um toque
Um toque que toque o meu ser.

Premonições malabaristas invadem o sono
Dedos pequenos me procuram na cama
O meu quarto sem luz
Reduz o filme mudo dos meus olhos.

Todo som precipita-se em meus ouvidos
Agora!
E é como se o tempo parasse no tempo
E voltasse para olhar o passado
Passando à frente da visão
Arrancando as minhas retinas
Retinas
meninas ... ... menina
Onde foi que terminamos de começar
Onde foi que iniciamos este fim?
Fim sem fim
Sem fim
Sem fim
Cem fins ...

1/26/2006

NASCENÇA.....

NASCIMENTO DE OURO, MEU GAROTO, MEU GURI...
VEIO AO MUNDO NESSE DIA MEU ANJO
SEM ASAS PRA VOAR
O QUE ME TROUXE DE ONDE VEIO: TODO O CÉU AZUL.