OLD ROCK

OLD ROCK

11/10/2006

em branco

Nuvem solidão nuvem
Abraço mudo entre os olhos e as mãos
Palavra cega tateando em Braile
A folha em branco
Graus negativos na ponta dos dedos

Os versos sobre o fundo branco da folha em branco
Sussurram...
Conspiram golpes contra o silêncio
Como um jovem estudante enfrentando tanques de guerra
Na praça da paz celestial chinesa
Como a mãe segurando o retrato do filho morto
Nas chacinas cariocas e paulistas
Como o tratorista incapaz de demolir a casa dos favelados
Em frente ao poder judicial e policial
Os versos são como revolucionários
A estagnação lhes perturba
A opressão das pautas caladas
Ferem sua ética
Seu espírito irrequieto
O silêncio é gaiola para sua mente-ave
Abre tuas asas verso irrequieto
Voa sobre essa nuvem branca solidão
Dessa folha em branco
E não deixes a vida passar em branco por nós.

10/03/2006

ENTRESSONHO

No inicio
Quando só era o caos
Tudo era subterrâneo
Desconhecido
Líquido
E hemorrágico.
No meio de uma infinita solidão
Deus sonhou o céu e a terra
Mas ainda não havia nada
Toda a terra era utopia estéril
E o céu era só nevoa.
Também não havia dias, nem meses, nem anos.
Deus então sonhou com o dia e com a noite
E ao sol deu o dia, o calor, o homem;
E a noite ele deu a lua, as águas e a mulher.
A lua era menina era mulher
Sabia como lidar com os demônios e com os magos
Seu nome também era Ìsis.
Em seu profundo sonambulismo regia as águas
Com olhos escuros e mãos líquidas.
Seus lábios assoviavam volúpias
Os homens e mulheres a partir daí
Ficaram com olhos de éter, respirando euforias etílicas.
O vinho para a lua era como sangue
Era como os mares salgados de nossas veias
Os oceanos coagulados dos mênstruos mensais das mulheres.
A lua só, não era só lua,
Era nova...Nova lua
Era crescente...Cresce lua
Era minguante...Mingua lua, qual um sorriso no céu noturno e estrelado,
Era também cheia...
Cheia de mistérios
Chia de volúpias
Cheia de lua.
Certo dia os homens decidiram adorar esta lua
E vestiram-se todos de sedutores.
Ouvindo os ecos que a lua fazia
Ao passar nua em plena rua.
Os homens saíram de suas cavernas
E se eriçaram de luxuria.
Enlouquecidos e com olhares noctâmbulos
Todos tremeram de palidez
Era como ouvir as vozes que vinham do coração
Era esquecer de bater nas cabeças o martelo da razão.
A lua ardente delira e fica nua, cheia.
Os homens aloucados palpam os seios da lua
Beijam suas nádegas
Cheiram seu ventre
Lambem suas costas
E o gozo desse espasmo desceu a terra
E desde então os homens,
Em noites de lua cheia,
Tornam-se lobos.
A lua é do povo
A regente do mar de rostos na multidão
A lua é câncer
É prima da loucura:
Não diziam que Van Gogh era louco?
Ele pintou o quadro mais valioso do mundo;
Não disseram que Napoleão era louco?
Ele quase conquistou toda a Europa
E não disseram que Jesus era louco?
O filho de Deus
O homem que veio nos ensinar o mandamento mais importante
“Amai-vos uns aos outros como eu vos amei”
Necessitamos da loucura
Da lua
Da loucura lunática
Precisamos de suas crateras
De sua falta de gravidade.
Que tragam tochas
Todo tipo de chama
Que iremos saudar o beijo do sol e da lua
Hoje é dia de eclipse
E quando a lua estiver em seu trono aquático
Que nos proteja em nossas viagens estáticas
De nossas fantasias arbitrarias
E que nos dê inquietude lúcida
Para enfrentarmos os sortilégios
Os imprevistos
Que nos legue a sensualidade
Para que possamos sobrepor
As escravidões mentais
As faltas energéticas
E de todo tipo de malefício
E, por fim, que nos remeta a nós mesmos,
Para que possamos usar a intuição no lugar da razão, de vez em quando,
Para que também a nossa vida deixe de ser um entressonho.

6/19/2006

HERANÇA DE DRUMMOND

Suor sobre minhas faces
Faces poéticas cantando no exílio,
Beco em frente ao mar, mar de rosas ardentes.
Isolda, meu cais, estou partindo para a cidade sem reis.
Levando tristezas grudadas neste quarto minguante
Em milhares de corações devorados no meu peito.
Suor íntimo sobre meus versos
Versos molhados na boca.
Ando sem mapa, sem mina de ouro.
Nada no meu fim de arco-íris
Mas já estou no meio do caminho
Minha alvorada. Sigo por este mar sem meu Pero Vaz de Caminha
Vou registrando...
Beijos com umidade 15%
Solitude árida
E tudo o que é belo
Confesso, adoro Minas sem conhecê-la.
Parece um soneto patético
Sem festa
Sem nome
Só protesto
Herança de Drummond
Ele também me deu um lenço de Cecília Meirelles
Pras lágrimas caídas
Lágrimas como o rio revolto da minha cidade há muito longe
Saudades sem fim
Litogravura na minha memória
Lembro das manhãs de galos ardentes chamando o sol frio
Do café sobre a mesa, quente...
Estou só
Maria de Nazaré, da-me a consternação.
Daniel empresta-me a temeridade da cova dos leões.
Estou só
Só como o poema na lata de lixo
Impiedosa sujeira dos tempos
No entanto, o menino em mim dá a luz ao homem do dia de hoje.
E então os agostos passam
Vem setembro
Vem outubro, novembro, dezembros...
E aí cai a chuva
Contando histórias em cada gota sobre os telhados
Histórias antigas
Histórias novas
Guardadas no fundo desse copo de gyn
Como é bom o passar dos dias...

4/15/2006

Para Renato Torres

meu irmão, meu pai, meu filho
anjo endemoniado a flutuar sobre as crateras da lua
sob a sombra desta lua nua ecoam tuas palavras
palavras que vão de encontro aos burocratas, aos sem gosto e sem graça
aos sérios e injustos,
és contra os chatos, os coitados, os pacatos, os medrosos
tua música bate de frente com os censores, as palavras caladas, o silêncio
os obscuros, os lobos em pele de cordeiros, os pedantes
teu verbo hemorrágico cospe nos cultos, nos egos,
nos lerdos, na burrice,
teus acordes quebram os aquários, esquenta a água parada.
as palavras das páginas brancas ressoam...
tua árvore é só semente.
teu vidro, nada na frente.
meu irmão, meu pai, meu filho...

4/13/2006

uma declaração de amor à arte


Para Adolfo Santos

o amor...
só o amor nos une
a arte...
a arte é nossa impressão digital deixada na alma e no tempo
e não há amor mais estranho que o amor pela arte
amor que não sossega quem ama
que dá risadas quando descontente
que só fica em paz nas tormentas
e que se alimenta apenas dos aplausos da platéia
no amor e na arte
o soldado luta somente para defender o nosso eterno direito de cantar
cantar qualquer canção sem mais nem porquê
no amor e na arte
somos mais importantes que o dinheiro, e este não pode comprar nosso dias e noites
no amor e na arte
toda manhã é uma manhã de sol, mesmo que esteja chovendo
no amor e na arte
não há papas na língua
branco é branco
preto é preto
índio é índio
mulçumano é mulçumano
católico é católico
protestante é protestante
homem é homem mulher é mulher
e mesmo assim tudo é uma coisa só
não há distinção de cor, raça, credo ou sexo, não há distinção
na arte
o amor é livre, deixa viver
não é amor ciumento posto em drama
na arte
professor e aluno, aprendem uma coisa só: aprender uns com os outros
no amor
a arte pinta e borda
canta canções,
dança sem parar,
escreve seus poemas nos muros da cidade,
representa a vida num banco de praça
no amor e na arte
a única lei do mundo é ser feliz
então sejamos felizes! amemos! f
açamos arte, por toda parte!
para que ao fim de tudo possamnos olhar para trás e confessar: eu vivi.

3/24/2006

janela

te escrevo
tu escrava
palavra
pólvora
lava

tu palavra
me escrevo
escravo
sou prova
pólvora e lava

eu escravo
escrevo
palavra
tu escreve
entrave
palavra chave

tu pólvora
me encendeia
encendeias

tu lava...alvejante. eu pulo a janela...
tu lavas...

3/08/2006

Poética

À Manuel Bandeira


A festa do enterro
Nossos sambistas
Mocinhas ... meus fragmentos
O heroísmo que marca os que marcam a morte
É uma flauta de papel
Contarei a história de um poema:
Antologias
Andorinha, minha adolescência é um encontro casual com a rosa
Rosa em cinzas horárias: irônica, erótica
Poemeto carnavalesco de sapos verdes
Bailando nos mares
O ritimo feliz dos sinos dissolutos
É a noite morta num berimbau, feito a libertinagem.
Não sei dançar mulheres
Penso nas famílias como um pneumotórax
Minha poética evoca recifes, notícias de jornal e poemas
Minha oração voa profundamente como andorinha
Na boca palinódia indiscreta vou-me embora
Estrelas da manhã cantam duas canções indígenas
Que falam de três mulheres: a filha do Rei,
A momentânea do café frio,
E a dona do trem de ferro
Não tenho cinqüent’anos
Meu ouro é preto
Minha maçã é forte-água
A estrela em meus olhos é a última canção do beco
Bela, bela, belíssima
Então a brisa do poema solitário
Teima e volta em sextilhas românticas ausentes
O poema santo quer neologismos
Mato o boi no verão
Torno-me grilo noturno do morro do encanto
E a lua nova é estrela tarde das tardes gélidas
Variando ... variando ...
Sérios sonetos formam sua peregrinação
Seu nome são vários nomes
Em si existem dois anúncios:
- Oitenta anos de poesia
Literatura clássica atual
Conteúdos fixos
Criações
Só tenho vinte anos
- Bibliografia ativa
Cronológica
Histórica
Literária
Não sou da Academia Brasileira de Letras
Obrigado!
Obrigado Manuel Bandeira por ter nascido

2/17/2006

MEU CARO LÚCIFER

Caído anjo do céu em desobediência
Quais as regras do jardim edênico?
Serpente tântrica a nos tentar
Eva e a serpente vivem a se repetir
Noturno
Florestal
Ardentes chamas
O inferno lúbrico, apocalíptico das temerosidades eucarísticas
Dorme em nossas ânsias carnais
Prazeres luciferianos
Lual nosferático.
Nossa viagem terrena depende de um ato: viver
Viver é provar a maçã
É ser expulso do jardim
É alquimia latente
É pecar.
Tarô, quiromancia, oráculos, qual o meu futuro?
Que rumo tomar diante da maliforme tentação?
Só um acho eu ... viver ardentemente
Caro anjo.

2/15/2006

HOJE

Hoje, se quiserem cortar minha cabeça
O façam, que hoje a minha cabeça tem asas
Querubim endemoniado;
Hoje, se quiserem tirar o chão sob meus pés
Podem fazê-lo, que hoje eu estou com minhas pueris asas de demônio angelical;

Se quiserem apagar o sol
Se quiserem apagar a lua
Tudo bem, que hoje eu sou a luz;
Se quiserem matar ou morrer
Não se importem, que hoje eu lhes darei a vida;
Se hoje quiserem dançar
Sorrir sem motivo algum
Lembrar de um amor esquecido nos guetos da saudade
Ou esbanjar alegria
Euforia
Estejam livres para fazê-lo
Que hoje eu sou a música;
Se quiserem hoje beijar alguém
Abraçar bem forte
Deixar o coração ser capitão deste corsário que somos nós
Ou apenas sorrir e chorar sem motivo algum
O façam, que hoje eu sou o amor
E deixarei todos beberem de mim
Como se eu fosse a mais servil taça
Como se eu fosse as duas tetas mais gigantes
Que se possa pensar
Dando ...
O que hoje todos querem.

2/14/2006

ARTÉRIA

Não sei o que as pessoas querem de mim
Meu medo
Meus beijos
Meu cuspe
Minhas palavras
Meu silêncio
Meu sorriso
Minhas lágrimas
Minha vida ou minha morte
Talvez elas queiram meu sangue
Passam suas vidas inteiras
Atropelando seus sentimentos
E anestesiando seus desejos tanto
Que já não sabem o que querem,
Protegem-se de tudo e de todos
Tornam-se rivais
Superiores
Favoritos
Rejeitados
Protegidos
Desconfiados
E inseguros.
Prestigiam-se pela astúcia nobre
De enganar e não ser enganado
- Delicada superioridade civilizada.
Por força global e pelo conhecimento instantâneo
Onde todos pensam a mesma coisa ao mesmo tempo
Vão se transformando todos em astros da TV.
Educados, respeitosos e cheios de tato diplomático
Engolem tudo aquilo que os desagrada
E fingem ir tudo bem,
Seus moldes e regras não permitem
A inveja
O rancor
A raiva
O despeito ou a mágoa.
Filantrópicos, acabam matando uns aos outros,
E aquele “um por todos e todos por um”
Fica hibernando, banido pelo ódio e pelo medo.
Quanto mais se conhecem
Mais coisas sabem um do outro.
Menos sabem o que pensar um do outro.
Assim são as pessoas
E assim muitas delas não são
Por elas não saberem o que querem de mim
Dou a elas
O que dou a todos:
Minha arte!

2/03/2006

COMO JÁ DIZIA OSWALD DE ANDRADE

Como já dizia Oswald de Andrade:
“A poesia existe nos fatos”.
Mas houve a erudição
Trancamos a poesia nas enciclopédicas filas do saber.

Academicismo, universidade.
Apesar das revoluções, arte ainda é elitizada.
Arte para professores de literatura
Arte para presidentes
Arte para ginecologistas
Arte para militantes comunistas
Adormecida no ócio de seus gabinetes:
Assépticas galerias
Opulentos teatros
Pitorescos museus
Os melhores ambientes vegetativos
De nossa contemporânea mania de apreciar
Degustar
Sem devorar sentidos. Tintas. Danças. Poesias.
Por educada reminiscência dos genótipos arcaicos.
Esquece-se a arte
Lê-se estética e só.
Geometria dos fatos dignos de serem retratados
Fotografia.
Caricatura. Precisamos de caricatura.
Irônia. Precisamos ser irônicos.
Sutileza. Precisamos ser sutis e agressivos.
Paradoxo. Arte. Nós mesmos. Não os outros.
A experiência. O tato. Não as consciências teóricas.
Nossa história conhecida
Nossa arte euro-brasileira
A arte marginal de todos os tempos
É preciso revê-las
Vacinar os absurdos
Curá-las da mentira, da negação, da cópia.
Arte pela arte. Não somos catálogos parnasianos
Em pleno século XX. Somos, sim, viajantes do tempo.
A arte - reflexo vivo do momento
A arte - a velha negra contando casos de infância
Melhor livro de história que temos.
É preciso que a arte se torne saltimbanco
Mambembe pelo mundo onde vivemos.
Circense. A arte como circo
O circo para todos
Todos que queiram apreciá-lo, devorá-lo
É preciso que a arte fuja dos moldes fixos
Dos teatros
Dos livros
Das galerias
Dos museus
E vá para a rua.
Sem pudor
Sem papas na língua
Arte.
Parte ...

2/02/2006

EPÍLOGO

... E inicia-se o fim:
Porta fechada
Porém aberta às nossas ilusões.

Escorrem entre os dedos pequenos
Pequenas lembranças que não caberiam no mundo inteiro.

Deixe-me contar uma estória sem final
Não sei ao certo, onde ela começa
Mas é mais ou menos assim:

“Um rapaz, desses que o mundo esconde atrás da solidão,
Olhava certo dia para o céu.
Falando a si próprio ele disse:
- Como é infinito o meu céu que não é meu!

Num outro dia
Caminhava ao som do vento
E viu um rosto que guardava
Olhos tão lindos aos seus olhos
Que ele repensou:
- Como é infinito o meu céu que não é meu
Mas, bem mais infinito, é o amor que não é meu
E que tomou conta do coração
Que também não é meu
Mas é de todos
De todos e de todo o meu amor
Que nunca tem fim.”

PRELÚDIO

O som das coisas foge da atmosfera
E qualquer qualquer
Só precisa de um toque
Um toque que toque o meu ser.

Premonições malabaristas invadem o sono
Dedos pequenos me procuram na cama
O meu quarto sem luz
Reduz o filme mudo dos meus olhos.

Todo som precipita-se em meus ouvidos
Agora!
E é como se o tempo parasse no tempo
E voltasse para olhar o passado
Passando à frente da visão
Arrancando as minhas retinas
Retinas
meninas ... ... menina
Onde foi que terminamos de começar
Onde foi que iniciamos este fim?
Fim sem fim
Sem fim
Sem fim
Cem fins ...

1/26/2006

NASCENÇA.....

NASCIMENTO DE OURO, MEU GAROTO, MEU GURI...
VEIO AO MUNDO NESSE DIA MEU ANJO
SEM ASAS PRA VOAR
O QUE ME TROUXE DE ONDE VEIO: TODO O CÉU AZUL.