OLD ROCK

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10/03/2006

ENTRESSONHO

No inicio
Quando só era o caos
Tudo era subterrâneo
Desconhecido
Líquido
E hemorrágico.
No meio de uma infinita solidão
Deus sonhou o céu e a terra
Mas ainda não havia nada
Toda a terra era utopia estéril
E o céu era só nevoa.
Também não havia dias, nem meses, nem anos.
Deus então sonhou com o dia e com a noite
E ao sol deu o dia, o calor, o homem;
E a noite ele deu a lua, as águas e a mulher.
A lua era menina era mulher
Sabia como lidar com os demônios e com os magos
Seu nome também era Ìsis.
Em seu profundo sonambulismo regia as águas
Com olhos escuros e mãos líquidas.
Seus lábios assoviavam volúpias
Os homens e mulheres a partir daí
Ficaram com olhos de éter, respirando euforias etílicas.
O vinho para a lua era como sangue
Era como os mares salgados de nossas veias
Os oceanos coagulados dos mênstruos mensais das mulheres.
A lua só, não era só lua,
Era nova...Nova lua
Era crescente...Cresce lua
Era minguante...Mingua lua, qual um sorriso no céu noturno e estrelado,
Era também cheia...
Cheia de mistérios
Chia de volúpias
Cheia de lua.
Certo dia os homens decidiram adorar esta lua
E vestiram-se todos de sedutores.
Ouvindo os ecos que a lua fazia
Ao passar nua em plena rua.
Os homens saíram de suas cavernas
E se eriçaram de luxuria.
Enlouquecidos e com olhares noctâmbulos
Todos tremeram de palidez
Era como ouvir as vozes que vinham do coração
Era esquecer de bater nas cabeças o martelo da razão.
A lua ardente delira e fica nua, cheia.
Os homens aloucados palpam os seios da lua
Beijam suas nádegas
Cheiram seu ventre
Lambem suas costas
E o gozo desse espasmo desceu a terra
E desde então os homens,
Em noites de lua cheia,
Tornam-se lobos.
A lua é do povo
A regente do mar de rostos na multidão
A lua é câncer
É prima da loucura:
Não diziam que Van Gogh era louco?
Ele pintou o quadro mais valioso do mundo;
Não disseram que Napoleão era louco?
Ele quase conquistou toda a Europa
E não disseram que Jesus era louco?
O filho de Deus
O homem que veio nos ensinar o mandamento mais importante
“Amai-vos uns aos outros como eu vos amei”
Necessitamos da loucura
Da lua
Da loucura lunática
Precisamos de suas crateras
De sua falta de gravidade.
Que tragam tochas
Todo tipo de chama
Que iremos saudar o beijo do sol e da lua
Hoje é dia de eclipse
E quando a lua estiver em seu trono aquático
Que nos proteja em nossas viagens estáticas
De nossas fantasias arbitrarias
E que nos dê inquietude lúcida
Para enfrentarmos os sortilégios
Os imprevistos
Que nos legue a sensualidade
Para que possamos sobrepor
As escravidões mentais
As faltas energéticas
E de todo tipo de malefício
E, por fim, que nos remeta a nós mesmos,
Para que possamos usar a intuição no lugar da razão, de vez em quando,
Para que também a nossa vida deixe de ser um entressonho.