OLD ROCK

OLD ROCK

2/17/2006

MEU CARO LÚCIFER

Caído anjo do céu em desobediência
Quais as regras do jardim edênico?
Serpente tântrica a nos tentar
Eva e a serpente vivem a se repetir
Noturno
Florestal
Ardentes chamas
O inferno lúbrico, apocalíptico das temerosidades eucarísticas
Dorme em nossas ânsias carnais
Prazeres luciferianos
Lual nosferático.
Nossa viagem terrena depende de um ato: viver
Viver é provar a maçã
É ser expulso do jardim
É alquimia latente
É pecar.
Tarô, quiromancia, oráculos, qual o meu futuro?
Que rumo tomar diante da maliforme tentação?
Só um acho eu ... viver ardentemente
Caro anjo.

2/15/2006

HOJE

Hoje, se quiserem cortar minha cabeça
O façam, que hoje a minha cabeça tem asas
Querubim endemoniado;
Hoje, se quiserem tirar o chão sob meus pés
Podem fazê-lo, que hoje eu estou com minhas pueris asas de demônio angelical;

Se quiserem apagar o sol
Se quiserem apagar a lua
Tudo bem, que hoje eu sou a luz;
Se quiserem matar ou morrer
Não se importem, que hoje eu lhes darei a vida;
Se hoje quiserem dançar
Sorrir sem motivo algum
Lembrar de um amor esquecido nos guetos da saudade
Ou esbanjar alegria
Euforia
Estejam livres para fazê-lo
Que hoje eu sou a música;
Se quiserem hoje beijar alguém
Abraçar bem forte
Deixar o coração ser capitão deste corsário que somos nós
Ou apenas sorrir e chorar sem motivo algum
O façam, que hoje eu sou o amor
E deixarei todos beberem de mim
Como se eu fosse a mais servil taça
Como se eu fosse as duas tetas mais gigantes
Que se possa pensar
Dando ...
O que hoje todos querem.

2/14/2006

ARTÉRIA

Não sei o que as pessoas querem de mim
Meu medo
Meus beijos
Meu cuspe
Minhas palavras
Meu silêncio
Meu sorriso
Minhas lágrimas
Minha vida ou minha morte
Talvez elas queiram meu sangue
Passam suas vidas inteiras
Atropelando seus sentimentos
E anestesiando seus desejos tanto
Que já não sabem o que querem,
Protegem-se de tudo e de todos
Tornam-se rivais
Superiores
Favoritos
Rejeitados
Protegidos
Desconfiados
E inseguros.
Prestigiam-se pela astúcia nobre
De enganar e não ser enganado
- Delicada superioridade civilizada.
Por força global e pelo conhecimento instantâneo
Onde todos pensam a mesma coisa ao mesmo tempo
Vão se transformando todos em astros da TV.
Educados, respeitosos e cheios de tato diplomático
Engolem tudo aquilo que os desagrada
E fingem ir tudo bem,
Seus moldes e regras não permitem
A inveja
O rancor
A raiva
O despeito ou a mágoa.
Filantrópicos, acabam matando uns aos outros,
E aquele “um por todos e todos por um”
Fica hibernando, banido pelo ódio e pelo medo.
Quanto mais se conhecem
Mais coisas sabem um do outro.
Menos sabem o que pensar um do outro.
Assim são as pessoas
E assim muitas delas não são
Por elas não saberem o que querem de mim
Dou a elas
O que dou a todos:
Minha arte!

2/03/2006

COMO JÁ DIZIA OSWALD DE ANDRADE

Como já dizia Oswald de Andrade:
“A poesia existe nos fatos”.
Mas houve a erudição
Trancamos a poesia nas enciclopédicas filas do saber.

Academicismo, universidade.
Apesar das revoluções, arte ainda é elitizada.
Arte para professores de literatura
Arte para presidentes
Arte para ginecologistas
Arte para militantes comunistas
Adormecida no ócio de seus gabinetes:
Assépticas galerias
Opulentos teatros
Pitorescos museus
Os melhores ambientes vegetativos
De nossa contemporânea mania de apreciar
Degustar
Sem devorar sentidos. Tintas. Danças. Poesias.
Por educada reminiscência dos genótipos arcaicos.
Esquece-se a arte
Lê-se estética e só.
Geometria dos fatos dignos de serem retratados
Fotografia.
Caricatura. Precisamos de caricatura.
Irônia. Precisamos ser irônicos.
Sutileza. Precisamos ser sutis e agressivos.
Paradoxo. Arte. Nós mesmos. Não os outros.
A experiência. O tato. Não as consciências teóricas.
Nossa história conhecida
Nossa arte euro-brasileira
A arte marginal de todos os tempos
É preciso revê-las
Vacinar os absurdos
Curá-las da mentira, da negação, da cópia.
Arte pela arte. Não somos catálogos parnasianos
Em pleno século XX. Somos, sim, viajantes do tempo.
A arte - reflexo vivo do momento
A arte - a velha negra contando casos de infância
Melhor livro de história que temos.
É preciso que a arte se torne saltimbanco
Mambembe pelo mundo onde vivemos.
Circense. A arte como circo
O circo para todos
Todos que queiram apreciá-lo, devorá-lo
É preciso que a arte fuja dos moldes fixos
Dos teatros
Dos livros
Das galerias
Dos museus
E vá para a rua.
Sem pudor
Sem papas na língua
Arte.
Parte ...

2/02/2006

EPÍLOGO

... E inicia-se o fim:
Porta fechada
Porém aberta às nossas ilusões.

Escorrem entre os dedos pequenos
Pequenas lembranças que não caberiam no mundo inteiro.

Deixe-me contar uma estória sem final
Não sei ao certo, onde ela começa
Mas é mais ou menos assim:

“Um rapaz, desses que o mundo esconde atrás da solidão,
Olhava certo dia para o céu.
Falando a si próprio ele disse:
- Como é infinito o meu céu que não é meu!

Num outro dia
Caminhava ao som do vento
E viu um rosto que guardava
Olhos tão lindos aos seus olhos
Que ele repensou:
- Como é infinito o meu céu que não é meu
Mas, bem mais infinito, é o amor que não é meu
E que tomou conta do coração
Que também não é meu
Mas é de todos
De todos e de todo o meu amor
Que nunca tem fim.”

PRELÚDIO

O som das coisas foge da atmosfera
E qualquer qualquer
Só precisa de um toque
Um toque que toque o meu ser.

Premonições malabaristas invadem o sono
Dedos pequenos me procuram na cama
O meu quarto sem luz
Reduz o filme mudo dos meus olhos.

Todo som precipita-se em meus ouvidos
Agora!
E é como se o tempo parasse no tempo
E voltasse para olhar o passado
Passando à frente da visão
Arrancando as minhas retinas
Retinas
meninas ... ... menina
Onde foi que terminamos de começar
Onde foi que iniciamos este fim?
Fim sem fim
Sem fim
Sem fim
Cem fins ...