OLD ROCK

OLD ROCK

3/02/2011

OPERÁRIO DE POEMAS, ARTESÃO DE CONTOS

No bolso, as horas contadas em pétalas de rosa
Chave-mestra para todos os segredos
Um sim para cada sim
E algumas letras vindas de Portugal, azulejadas.
Dando corpo táctil à cidade dos livros.
Longa deve ser a vida
Mesmo que só durem os minutos do teclar da antiga máquina de escrever
Os rios que um dia passaram por minha vida
Revelaram o que mais esconde a pedra:
- Metamorfose é revide contra a vertigem do arrastar dos dias
Alegria ao dançar. Libertino. Liberto. Livreto...
Cantar todas as letras
Ecoar...
Até que o nascer do sol erga um dia feliz como queria Cazuza
Letra só ou Companhia das Letras
Alegria alegria como queria Caetano
Então após reunir todos os meus poemas, lembrei do meu primeiro caderno preto
Aluno de poesia. Espinha dorsal. As asas pueris...
Aqueles versos engaiolados em folhas amareladas
Palpitavam em minha caixa de vidro
Queriam saltar das janelas do último andar
Então saltei...
Meninas da balada das meninas de bicicleta de Vinicius
Estou a teus pés em prosa e verso
Operário de poemas
Artesão de contos

QUEM VIVE DO PASSADO?

Quem vive do passado?
Que pessoa pára os ponteiros do relógio e volta atrás?
Quem não deixa essa erosão, o tempo, levar com o vento os dias idos?
O que ganha um contraventor das leis mais básicas da física voltando pro passado?
Por que deixar a vida se arrastar em descompasso com os calendários?
Por que remar contra a maré?
Não há tempo que não passe, ele não volta atrás.
O tempo, grãos de areia, quanto mais força fazemos para segurá-lo...
Mais ele escorre por entre os dedos
E mesmo sem se sentir
O tempo passa...Por nós...
¬Às vezes, anestesiando dores, cicatrizando feridas;
Abrindo novas veredas velhas sob nossos pés
Caminhar...
O tempo é amigo intimo do caminhar
Passos em direção ao amanhã
Ir em frente
Na mesma direção do sol poente
Até acharmos o sol nascendo

Devo seguir a diante
Sem a pressa da juventude ida em mim
Juventude da carne e dos ossos
Não a juventude da alma e dos olhos
Essa irá comigo até o fim

E não posso apagar os passos atrás de mim
A vida não é como a areia da praia
Os passos que damos não se apagam com as ondas
Mas também, não são eles, como estrelas, que nos guiam pelo caminho.
São tão somente passos idos
Que sempre vão estar atrás de nós
Até o dia em que cerrarmos os olhos para os dias vindouros
E nem mesmo a morte
Com seu poder descomunal
É capaz de parar tempo
O tempo passa pela morte como um beija-flor passa por uma flor: invisível...

ESPANTALHO

CLOSE YOUR MIND
THE BLIND SHADOW IS COMMING
Campo de milho. Cinturão. Centurião.
Sobras espalhadas nas sombras
Alan Poe entre corvos caça o medo que guardamos entre os dentes
Cada passo no milharal. Cinturão. Centurião...
Seu corpo de palha
O fogo de seus olhos
Tua mente, temente.
Mentira contada ao redor da fogueira
Crianças apavoradas
OPEN YOUR MIND
THE SCARECROW IS COMMING...SOON...
Os olhos buscarão seu maior temor
Não a morte. O que vem depois é apavorante
Depois dos vermes, o desconhecido, o fim do túnel.
Como fugir? Como se esconder? Como não temer?
Onde está Daniel? Davi?
Onde estará Batman que não vem nos salvar?
Morcego. Vôo cego...
Por isso ele não teme
Ele não vê
E por mais que eu ande no vale da morte
Eu não temerei, pois estarás sempre comigo.
Minha companheira solidão
Minha cegueira nas sombras.

3/01/2011

22 DE SETEMBRO

Meu anjo nasceu, desceu dos céus.
Agora vou deixar de contar a felicidade em calendários,
E horóscopos de paginas de jornais.
Agora o amanhã que eu tanto esperava é hoje
Antes eu pensava amanhã ser feliz
Amanhã tomar café
Amanhã acordar tarde
Amanhã esperar chover
Eu pensava amanhã
Agora é hoje
Meu anjo nasceu
Desceu dos céus pra me fazer rico sem conta corrente
Alegre sem sorriso
Maratonista sem cansaço
Ouro sem ouro
Feliz cidade
Felicidade.
É hoje...

SONHAR, SÓ DORMINDO

Sete vezes lembrei minha infância
Do tempo em que o céu se uniu ao inferno
Do tempo que o Brasil era menino que nem eu
Construções e toadas de muitas cidades:
Belém, onde nasci;
Cametá, minhas saudades dormem nos bancos de areia da praia artificial;
Salinópoils, o sal embebedou meus olhos;
Mosqueiro, o mar é doce;
Paragominas, a poeira vermelha voava no céu azul;
Tucuruí, nem a força de Hércules prende o rio;
Oriximiná, água preta no copo d’água é clarinha;
Óbidos, pedaço da cidade velha;
Santarém, onde o tapajós não se mistura ao amazonas, onde a beleza não se mistura com nada, fica suspensa no ar;
Soure, não há céu mais belo que o Marajó;
Macapá, São José te protege;
Itaberaí, o silêncio é juiz dessa cidade;
Brasília, linhas cortam o azul inigualável;
Goiânia, onde não se pode sonhar;
Belém, onde morri.
As ruas ficaram diferentes
As praças viúvas
Acho que estou muito sentimental
Vou procurar no meu caminho alguma igreja
Foi assim que nasceu este poema
Como se não quisesse nascer de meu punho cerrado
Como se fosse uma notícia de jornal
Estou indo para o meu lar
Doce lar
Onde meu coração se tornará infinitos
Uma festa lá na praça quando eu chegar
Sobrevivi...
Meu sonho, anedota...
Que ninguém vê graça alguma
O amor através das idades vai à romaria
Juventude me deixou
Infância canta o hino nacional na Avenida Presidente Vargas
Quero casar
Puro como café
Café preto
E na minha boca este soneto
É o sol...